sexta-feira, 29 de abril de 2011

Caderno

Foi hoje pelo manhã
Ele estava escondidinho, bem ali
entre a cômoda e a parede.
Parecia meio triste, esquecido,
quantas lembranças ali dentro
quantas fantasias
ainda tinha coisas de criança
cor, saudades, sentimentos que criaram forma
Estranho como não senti sua falta
Não procurei por ele
Foram tantos anos juntos e ele
estava ali no canto entre a cômoda e a parede.
No momento em que o encontrei
o segurei e senti todo aquele sentimento
que tinha deixado de lado
Toda a minha vontade de rabiscar a parede
voltou!
Ele tinha voltado.
E o melhor de tudo era saber que ainda tinha
espaço pra mim.
Ele me aceitou de volta.
É
encontrei um caderno de desenhos
O meu caderno de desenhos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Todo homem é um menino mudo

Todo menino é saci
Gosta de bola, gosta do enrola
Enrola a mãe, a tia e toda menina.
Todo menino é bagunça
Bagunça a casa, o quintal, a praça, o mundo
Grita a mulecada, faz palhaçada, apronta e corre.
"Não fui eu mãe!"
Rouba a bananada e poe a culpa no Saci.
Todo menino é heroi, policia e ladrão
Toda brincadeira tem vilão.
Todo menino quer ser atração
Todos querem a atenção da menina bonita.
Todo menino é deslumbrado, apaixonado, encantado.
"Todo menino é retardado."


Todo menino um dia cresce, envelhece.
Todo menino é muleque.
E todo muleque tem espinha.
Todo muleque vira homem
Todo homem tem um menino
Todo homem é saci.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Arestas

Sei o quanto pode ser difícil.
O quanto que se pode aprender.
Mesmo que leve um tiro
Ou um tapa.
Não será mais fácil se estiver acompanhado
Nem mais difícil se estiver sozinho.
Mas irá acontecer...
A intenção não é ser triste
Nem alegre
Nem bonito.
Foi feito para dificultar
Para aparar as arestas
Para edificar
Construir um eu novo.
Um eu criado
Não maquiado, mas limpo.
Um eu curado.

Não é possível olhar o céu,
Mas ele existe.
Sei o quanto pode ser difícil.
Mas existe.